Empresas que investem em diversidade apresentam melhores indicadores em inovação e criatividade. Um bom negócio para elas e para o país

Em seu livro mais recente, O futuro chegou, o sociólogo italiano Domenico De Masi nos brinda com mais lições de cidadania e otimismo. Sua perspectiva positiva está em, ao constatar a desorientação da sociedade moderna, demonstrar que soluções possíveis estão entre nós. Precisamos aprender com os ótimos exemplos que estão no mundo todo; o mais difícil, claro, é fazer acontecer. De Masi apresenta quinze modelos de vida, desde o humanismo espiritual indiano, passando pelo refinamento do guerreiro japonês, pelo povo de Deus hebraico, chineses, católicos, capitalistas, muçulmanos, até finalmente encerrar as mais de 700 páginas de sua vibrante obra com – pasmem – o modelo brasileiro. E é este surpreendente capítulo que dá título à obra, fazendo uma referência à frase que sempre ouvia décadas atrás em suas primeiras viagens ao Brasil, o “país do futuro”.

Somar e não excluir
Pois bem, o futuro chegou, uma vez que uma interpretação de todas essas análises poderia ser a palavra “inclusão”. Conforme De Masi preconiza, não podemos deixar de nos considerar cristãos, iluministas, comunistas e pós-industriais, o que significa que precisamos, para sair desta desorientação atual, somar e não excluir. A ótima notícia para os brasileiros é, que, apesar de todos os nossos gigantescos problemas, temos aqui condições culturais baseadas na miscigenação, ou seja, uma vocação natural para a inclusão.

Brilhante lição que podemos transpor para o ambiente empresarial. Dentro de uma organização qualquer, em qualquer parte do mundo, encontraremos um estrato da sociedade na qual esta empresa está inserida. Como característica que não é exclusividade de nenhum povo ou credo, discriminações de todo tipo, seja de gênero, opção sexual, etnia, idade, deficiência física, tornam mais fácil segregar e juntar os iguais do que aprender com as diferenças. Não é incomum gestores de poderosas organizações contratarem cada vez mais pessoas parecidas com eles mesmos e que talvez saibam um pouco menos, para que o poder seja garantido. Esta é uma receita infalível para a mediocridade no curto prazo e o desaparecimento da organização no médio prazo.

Uma grande responsabilidade recai sobre os líderes nas empresas, que precisam, portanto, criar um ambiente saudável de cooperação e inclusão. Mas como se faz isso? O Great Place to Work pesquisa anualmente mais de seis mil empresas que empregam mais de doze milhões de funcionários espalhados por 53 países. A pesquisa nos dá uma dica muito simples: experimente perguntar às pessoas o que elas acham do ambiente de trabalho. As respostas nos mostrarão o caminho das pedras. Outro dado relevante da pesquisa indica que, entre as Melhores Empresas para Trabalhar, afirmativas tais como “as pessoas aqui são bem tratadas independentemente de sua cor ou raça, sexo ou opção sexual” atingem excelentes índices de concordância, superiores a 96%. Portanto, são empresas que possuem códigos de conduta e práticas cotidianas que estimulam a inclusão.

Sentimento de confiança
Perguntados sobre o que faz dessas empresas lugares tão especiais para trabalhar, os colaboradores não hesitam em declarar que elas geram forte sentimento de confiança: acreditam em seus líderes, se sentem respeitados, enxergam justiça nos procedimentos da empresa, sentem orgulho do que fazem e vivenciam um espírito de equipe e cooperação. A ótima notícia é que qualquer empresa, independentemente de seu ramo de atividade, porte ou condição financeira no momento, pode trabalhar nestas cinco dimensões e transformar-se em excelentes ambientes corporativos: credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho e camaradagem. Outra boa notícia é que, provavelmente movido pelo seu espírito de miscigenação, o Brasil é o país que tem o maior número de empresas participantes nessa pesquisa mundial.

E vejam que impressionante: essas empresas acreditam que a diversidade é chave para a inovação e a criatividade, para a solução de problemas de forma mais abrangente e para o aprendizado constante com os erros. Não por acaso, tais empresas apresentam indicadores de negócios muito superiores aos de suas concorrentes de mercado: têm menor rotatividade e naturalmente retêm seus talentos, apresentam menores índices de absenteísmo e afastamentos médicos, são empresas mais produtivas e mais rentáveis. Ou seja, inclusão faz bem para todos e traz melhores resultados de negócio. As excelentes empresas para trabalhar agem para garantir a integração e com isso dão mais uma contribuição para construir uma sociedade melhor.

 

Ruy Shiozawa

Fonte: http://www.revistamelhor.com.br/