Olhe, pondere, decida. Muitas vezes dizer “não” é uma forma de dizer “sim” para os seus sonhos!

 

Um belo dia, meu gestor me chama e, na lata, fala: “Carlos, nós decidimos que você vai para a obra”. A tradução em termos práticos era: passar três anos como trainee de gerente administrativo-financeiro numa barragem no interior do Maranhão.

Ao receber tal notícia, meu corpo gelou no verão de Salvador. Afinal, não havia espaço para o diálogo. Eu tinha acabado de me formar e atuava na área de RH de uma construtora de grande porte. Trabalhava na sede, o que não condizia muito com a cultura da empresa, porque atuar naquele local era uma espécie de prêmio para quem já havia ralado por 20 ou 25 anos em obras espalhadas pelo país ou mesmo pelo mundo.

Mas aquela imposição do chefe condizia menos ainda com as minhas ambições acadêmicas. Eu projetava um futuro como professor, mas o que tinha como perspectiva de carreira naquele momento era ficar num lugar em que sequer chegava sinal de televisão.

Fui para casa desestruturado emocionalmente. E não esqueço as palavras do meu chefe: “A gente acha importante para sua formação. Enfim, é uma decisão da organização. Você não tem alternativa.” Aquela expressão “não tem alternativa” me consumiu o final de semana inteiro. Domingo à noite, já padecido com a música do Fantástico, meu pai percebeu a minha desolação. Eu contei a história e ele falou: “Como você não tem alternativa? Claro que tem. Você pode e deve conversar, debater e no limite dizer ‘não’”.

Foi o que fiz. E saí da empresa. Falei com amigos que me ajudaram a me recolocar e a sair daquela encruzilhada. O que poderia ser vela e caixão na minha carreira naquele momento – por eu ter desistido de uma das empresas mais famosas da minha cidade – , foi libertador também.

A lição é que podemos dizer “não” para as coisas. “Não” para aquela decisão errada, com a qual não concordamos porque há um desvio ético ou porque achamos que aquele não é o caminho a ser seguido. “Não” para aquela oportunidade de emprego que possa pagar mais, alavancar a imagem, mas que vá comprometer a nossa qualidade de vida e a relação com a família.

Dizer “não” é libertador, só que, por variáveis do emprego, da função, de não decepcionar o chefe, nos consumimos achando que a situação não oferece alternativa. Há, sim, alternativa e, mais que isso, as escolhas não são definitivas. Se eu tivesse dito “sim”, não significaria necessariamente que a minha vida fosse descambar de obra em obra pelo interior do país e eu nunca mais retomasse à minha vida acadêmica. É importante sabermos fazer as nossas escolhas e termos o livre arbítrio – claro que ponderando sempre os prós os contras, o momento de vida e os objetivos de vida.

Esse episódio é emblemático porque hoje eu olho com certa graça para as horas de sono que perdi por me achar encurralado. Na vida, definitivamente, as oportunidades aparecem. É claro que o mercado não é fácil, nem sempre está comprador. Há decisões a serem tomadas que muitas vezes envolvem a família e, com o passar dos anos, isso se torna mais complexo. Mas é possível dizer “não”.

E aquela reflexão que parecia tão óbvia, à época, só foi possível com a ajuda de meu pai, pois eu estava com a visão nublada pela suposta falta de alternativa. Vi que não precisava ficar refém daquela situação. O mundo gira, as pessoas se encontram, tanto que esse meu chefe, por coincidência, virou um parceiro meu décadas depois, e fizemos trabalhos juntos.

Minha vida poderia ter tomado outros rumos se eu tivesse dito “sim”. E às vezes fico até imaginando o que teria acontecido. Mas decisão tomada, decisão acertada. E como diz o dito popular: quem decide pode acertar ou errar, quem não decide já errou.

 

Fonte: ClickCarreira