O marketing pessoal pode ser útil, se benfeito, para divulgar realizações profissionais e ficar bem com o chefe — mas o uso exagerado e incorreto prejudica a carreira.

Quando chegava à metade de seu primeiro mandato, no fim de 2010, o presidente americano Barack Obama confessou ao jornal americano The New York Times que um pecado de seu governo era achar que bastava fazer a coisa certa para haver reconhecimento por isso.
“Você não pode negligenciar o marketing e as relações públicas nesse cargo”, disse Obama, que no dia 6 de novembro disputou a reeleição (até o fechamento desta edição, a eleição não tinha sido definida).

Se até o presidente dos Estados Unidos trabalha sua marca, é sinal de que falar sobre as realizações é mesmo quase tão importante quanto fazer bem o trabalho. O grande problema do marketing pessoal feito pelo profissional comum (sem ajuda dos melhores assessores da Casa Branca) é o risco de errar na mão.

Nos corredores das empresas é fácil encontrar quem exagere nas qualidades ao falar de si mesmo na hora errada ou para a pessoa errada. Existem maneiras adequadas e eficientes de falar de suas qualidades e realizações. “Marketing pessoal trata mais de demonstrar habilidades do que de apontá-las”, diz a americana Dorie Clark, que escreve sobre o assunto para publicações como Forbes e Harvard Business Review.

Dorie está concluindo o livro Reinventing You: Define Your Brand, Imagine Your Future (Em uma tradução livre, “Reinventando-se: defina sua marca, imagine seu futuro”), que deve chegar às livrarias americanas ano que vem.

O ponto de partida para um marketing pessoal decente é fazer duas perguntas: 1) Quais são seus pontos fortes?; e 2) Como você é visto por seus colegas de trabalho? No livro que está preparando, Dorie lista os cinco passos para repensar sua marca pessoal — e o interessante é que ela transforma a elaboração de uma estratégia de marca pessoal em um exercício de reflexão sobre a carreira.

Depois de entender como você é visto profissionalmente, é possível seguir as próximas etapas: 3) Como você gostaria de ser visto?; 4) Ressalte seus diferenciais, fazendo uma nova apresentação de si; e, por fim, 5) Prove quais são suas qualidades. “Parte do sucesso da carreira está em fazer bem o trabalho, e parte do trabalho benfeito é mostrar aos outros seu valor”, diz Dorie.

Essa abordagem tem a vantagem de eliminar o discurso vazio, um dos maiores equívocos que as pessoas cometem quando anunciam suas qualidades. “Não temos credibilidade para falar de nós mesmos”, diz o coach Silvio Celestino, de São Paulo. Melhor, nesse caso, comprovar as ações com fatos e informações.

Outro erro é escolher o momento errado para falar de si. “O profissional não pode querer se vender o tempo todo”, diz Anderson Hernandes, especialista em marketing profissional, de São Paulo.

O certo é concentrar-se nas horas em que o assunto é o seu trabalho. A irmã dessa gafe é destinar sua propaganda para a pessoa errada. “É preciso fazer uma leitura das pessoas que precisam de seu conhecimento”, diz Claudia Monari, da Career Center, consultoria de carreira, de São Paulo.
Renato Panessa, de 30 anos, diretor de alianças da Globalweb, empresa de serviços de TI, de São Paulo, já cometeu erros tentando se aproximar de clientes, como enviar garrafa de vinho a pessoas que não bebem álcool ou ir de terno e gravata em uma reunião à beira-mar. Depois de muito errar, passou a ser mais cuidadoso. “Quando entendo e identifico as preferências das pessoas, a conversa flui e fica mais agradável”, diz Renato.

Estar atento ao que possa interessar a seu ouvinte e adequar o discurso é fundamental. A tarefa é encontrar naquilo que você faz alguma coisa que possa ajudar seu interlocutor. “Busque pontos em comum e a partir daí comece a construir sua história”, diz Alexandre Conti, de 27 anos, coordenador de projetos da Alta Geotecnia Ambiental, do Rio de Janeiro, que gosta de aproveitar eventos para se apresentar a novas pessoas.

Acima de tudo, é preciso ter um bom trabalho para mostrar e uma história para contar — não existe marketing que sustente uma carreira vazia. Uma frase, que costuma ser atribuída ao publicitário Nizan Guanaes, dono do Grupo ABC, diz que conteúdo sem marketing é burrice e marketing sem conteúdo é picaretagem. Adote-a como regra na próxima vez que for falar de você.

 

Fonte: Você S/A